Filhos da Sagrada Família - Vocações Manyanet
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Por: A.D.,     21/03/2018 |  09:16:48
Se o grão de trigo cair na terra e morrer, produzirá muito fruto

Os Evangelhos não são meras contações de história. Eles têm um objetivo muito maior: mostrar que Jesus é Deus. Trazem-nos fatos que bem antes de se fazerem textos foram refletidos, rezados e discernidos pelas comunidades, a partir de suas dúvidas, necessidades, projetos e mesmo conflitos.

Fruto deste trabalho, acontecido por anos a fio em seu grupo, foi que o Evangelista elaborou, podemos dizer teologicamente, seu Evangelho. Por isto é necessário irmos bem além da primeira leitura em seus textos. Vejamos como este texto Joanino é exemplo bonito disto.

Jesus já se encontra na Cidade Santa, onde tudo acontecerá muito brevemente. Como qualquer grande cidade ela é detentora de um aspecto cosmopolita, acolhendo gente de vários lugares. Em Jerusalém há também gregos e dentre esses alguns manifestam a Filipe, um dos discípulos, o desejo de “ver Jesus”.

Residem aí, nessa pequena frase, preciosidades a serem por nós buscadas e aprofundadas. Há o reforço da universalidade de Jesus. Ele não veio somente para o Povo da Bíblia, os judeus. A salvação não se limita a uma nação, nem a um espaço geográfico definido e muito menos a um tempo específico.

Toda a humanidade, em qualquer ocasião, se encontra abrangida por este mistério estupendo de Amor. Os judeus são acolhidos, como o foram, são e serão, todos os outros povos.

Observamos também aí a intermediação do discípulo. É o apóstolo quem apresenta Jesus aos estrangeiros. Filipe poderia muito bem ter ido sozinho, mas não age assim. É junto com André que levará aqueles dois futuros seguidores ao seu Senhor. Filipe e André são símbolos aqui da Igreja. Será através dela que poderemos ver Jesus.

A Igreja é santa, mas como seus filhos, temos também consciência das misérias e pecados vividos pelos seus membros, todos nós. Mesmo assim, com a diversidade de seus problemas, dá para nos imaginarmos e à nossa fé sem que ela existisse? Sem a Igreja quem nos teria levado para ver Jesus?

Ver Jesus vai muito além de olhá-lo dizendo: “ah, então é aquele!” Vê-lo no sentido do Evangelho é ir além. É fazer a experiência de Deus no Filho e esta se dá no caminho da vida. Não se “vê” Jesus somente no templo. Ele será visto a partir do seguimento.

Os gregos, como também nós, o verão nas vicissitudes da existência inteira, também com os momentos de paixão e dor. Nesse caso é bastante significativo que eles cheguem exato naquela hora na qual Jesus passará pela experiência do “grão enterrado”. Bem poderá ser que vários de nós tenhamos “visto” Jesus e começado a segui-lo em horas de sofrimento.

Servir a Jesus não se resume a prestar-lhe culto, reverência e louvor. O serviço do Senhor se concretiza na doação amorosa aos irmãos. Somente depois de estar com eles, atendendo-os nas necessidades, é que se deve ir até o altar louvar e reverenciar nosso Senhor.

Ao contrário das Bodas de Caná, onde diz para sua mãe não ser chegada sua hora, em Jerusalém Jesus sente a proximidade do seu momento fundamental. Toma consciência de que o conflito que se armava e do qual não fugiu, estava quase explodindo. A hora aqui tem um sentido apocalíptico. Quer significar também o fim. O abraço silencioso do Pai, que exalta o Filho, na entrega fiel ao seu projeto do Reino.

A hora é duríssima porque o Pai não interfere nos arranjos humanos, por mais cruéis que possam ser. A cruz, o mais vil de todos os suplícios daquele povo, vista somente com os olhos humanos, é obviamente um rotundo fracasso.

Mas não é assim que os discípulos, mesmo desconcertados desde aquele tempo e até hoje em dia, devemos considerá-la. Será através dela que Jesus será glorificado pelo Pai. Aqui, ao contrário do silêncio terrível de Deus no calvário, há a sua manifestação e sua voz é ouvida, confirmando a união de Amor com o Filho.

De objeto divisor e terrível, dia-bólico, de suplício, a cruz se tornará, logo em seguida, no grande sinal redentor da humanidade. Ela que parecia nos separar torna-se sim-bólica. Reúne-nos na medida em que gera a Igreja Povo de Deus e não somente hierárquica. Igreja viva, comunidade de irmãos, companheiros, ordenados ou não, que caminham com e para o Senhor.

Na proximidade da sua hora fatal, Jesus faz linda reflexão sobre a morte. Ensina-nos seu verdadeiro sentido: novo nascimento e ajuda-nos a lidar melhor com ela. A morte não é possuidora da última palavra. É começo de nova vida abundante, plenificada e eterna. Aquele grão que era único e que “morreu”, sob a terra, será gerador de muitos outros em seguida.

Não podemos ver a morte de Jesus de maneira isolada, somente levando em consideração os fatos da Semana Santa. Ela só será totalmente significativa, sendo contemplada como se num filme, no qual pudéssemos acompanhar toda sua vida e o que se seguiu, o cristianismo, até hoje.

O sentido da vida de Jesus se completa como semente geradora de tantos e tantos frutos. Precisa ser sentida através da experiência pessoal, cristológica, de cada um e também vista através da história.

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