Filhos da Sagrada Família - Vocações Manyanet
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Por: A.D.,     18/08/2018 |  18:17:53
Assunção de Nossa Senhora

Gerar não é o bastante para manter a vida. É preciso cuidar da criação até que se desenvolva. Lucas, na missa da vigília, nos mostra uma mulher a gritar em meio à multidão, mas o convite é para que vejamos além. O cuidado com a criação é de todos.  Homens e mulheres, para que se faça plena. Muito mais felizes, Jesus replica sem falar da questão de gênero, são aqueles que ouvem e praticam a Palavra.

Maria é a mãe bem aventurada porque, muito além de gerar é ela quem dá suporte, alimenta, protege, educa, desafia enfim Jesus para que pudesse crescer em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens. Crescer a tal ponto na sua humanidade até se tornar também integralmente divino. A mãe é pilar dessa história.

Desde os primórdios da Igreja a tradição nos traz um sinal bem significativo em relação à mãe de Jesus. Parece que tudo começou com uma questão: Como poderia a terra receber aquela que havia sido o sacrário vivo entre nós? Respondem dizendo que não. Deus jamais deixaria que seu corpo se desfizesse como o de qualquer mortal. Daí a intuição tão singela de contemplar Maria a subir, como que carregada pelo Filho auxiliado pelos anjos, rumo ao seio da Trindade Santa.

Ninguém deixará de ir para Deus. A diferença em relação à mãe de Jesus é dela, desde já, haver sido resgatada. Aquele que está no alto se une aos filhos que vivem aqui embaixo para, juntos, alçar Maria aos céus. Vislumbremos neste mistério a gratidão de Deus para com Maria. Mas não somente dele. Os habitantes do mundo também lhe são gratos.

Tamanha gratidão faz com que haja, como que, um trabalho de equipe. No mesmo instante em que Deus a busca, a humanidade se faz de anjos para enviá-la. A Trindade e os homens todos partilhando do mesmo desejo de agradecer a Maria por nos ter propiciado o Redentor.

Muito se tem dito e escrito sobre o silêncio de Maria e a sua submissão. Não é sobre isto que quero lhes falar. É preciso vê-la também de outra maneira. Mais ativa e mesmo revolucionária. Sem dúvidas que o Evangelho desta festa nos ajuda a contemplar este rosto cheio de altivez e de autoridade de Nossa Senhora.

Ela é mulher do povo possuidora de plena consciência das injustiças, cometidas pelos poderosos contra os pequenos. Maria é aquela que se põe, sem reservas, ao lado dos fracos e oprimidos. Mulher forte que tem voz e não se mantém calada frente às tiranias. Ao contrário, indignada, exclama palavras bem duras, hoje diríamos subversivas, à realidade opressora da sua gente.

É incrível que faça tal coisa num tempo e sociedade no qual a mulher pouco contava. Maria não fica em cima do muro como, tantas vezes, os cristãos gostam de se postar. Ela assume o direito dos excluídos e se regozija na esperança de que seu Deus, que é todo poderoso, restaurará, na sua misericórdia, a justiça.

Nossa realidade latino-americana está impregnada da presença de Maria. Os santuários devotados à mãe de Deus vivem lotados. A cada ano são batidos recordes de frequência. Não por acaso, quem mais costuma visitá-los é o povo simples e sofrido. Essa mesma gente que Maria defende no seu canto.

Os teólogos tentam dar explicações para tal fenômeno. Dentre outras, nos dizem que a devoção mariana cresceu mais ainda, a partir do comportamento dos colonizadores. Aqueles que lhes traziam Deus eram muito brutos. Preservavam em compartimentos estanques fé e vida. Daí que o povo pensava: “como pode o deus deles ser bom, se são tão maus? Melhor manter boa distância dessa divindade, eis que se os envia assim, só pode ser ainda mais carrasco do que os patrões.”

O testemunho dos cristãos vindos à América, sob a égide da cruz, não ajudava o arraigar da fé. Mas, ao mesmo tempo a gente simples refletia: pior mesmo é não acreditar. Essa doutrina nos fala ao coração, aquecendo-o. O problema então que se lhes punha era: por que porta adentraremos no interior desta fé? Daí a acolherem Maria foi só caminhar um passo.

Jesus, tinha tido mãe e daí, de imediato, depreendiam: “Ah, uma mãe sempre é boa. Ela acolhe e protege os pequeninos. Entreguemo-nos em seus braços. Permaneçamos bem junto dela. Façamos com que seu patrocínio seja para nós a porta do céu”.

Nessa intuição podemos contemplar a ação prodigiosa de Deus. Aquela gente sofrida, mesmo sem conhecer o Evangelho e nele o Magnificat, percebe, pela ação do Espírito Santo, sua filiação amorosa de Maria. Por coisas assim é que o Filho exclama: “Bem aventurado, Pai, porque escondestes estas coisas dos sábios e entendidos e as ensinastes aos simples e pequeninos”.

Ao contemplar mais de perto o mistério da assunção de Maria aos céus, é bem possível que consigamos vislumbrar uma vereda interessantíssima e muito bela. A nos fazer um convite para que a trilhemos.

Ela nos conduzirá ao coração de um mistério ainda maior. A contemplação do feminino de Deus. Ajuda-nos no resgate da imagem dele não somente paterna. Deus também é mãe. Observemos na parábola do Pai Misericordioso a postura do pai aguardando o filho. Ele se posta na estrada para esperá-lo.

Será que pai é mesmo de ir à rua ao sentir aflito sua ausência? Parece-me ser esta uma atitude muito mais materna. É mãe que costuma se lançar para fora de casa angustiada pela falta do filho. Pelas filas dominicais coladas aos muros dos presídios de nossas cidades, encontraremos essas mães. São elas, primordialmente, que partem para estar com seus filhos presos. O que eles fizeram não tem a menor importância.

Não faz muitos anos houve um papa que viveu um pontificado bem curto. Durou só um mês. Desse pouquíssimo tempo em cuidou do pastoreio da Igreja, duas coisas ficaram gravadas em nossas mentes. Seu sorriso aberto e a frase tão significativa a nos recordar que “Deus é mãe”.

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