Filhos da Sagrada Família - Vocações Manyanet
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Filhos da Sagrada Família - Vocações Manyanet
Por: Pe. Lucimar de Assis Mendes, sf,     29/03/2019 |  18:09:38
Exercícios Espirituais 2019

Nós, os sacerdotes da Congregação dos Filhos da Sagrada Família Jesus, Maria e José, nos dias 25 a 29 de março estivemos reunidos na Casa de Retiros São José, em Sorocaba – SP, para o Retiro Anual de Quaresma. Não deixando de lado o que o santo padre, o Papa Francisco escreve na sua Mensagem anual de Quaresma[1], por onde exorta a todos os católicos a viver este tempo quaresmal como um tempo para “purificar o coração”, a partir de três pontos fundamentais:

  1. Fazendo o caminho da nova criação do Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição;
  2. Lutar contra o pecado que nos separa de Deus, mas tendo sempre consciência que o pecado habita em nosso coração (cf Mc 7,20-23);
  3. Sermos novas criaturas; o santo padre destaca que tudo isso nos leva a um parto. Que a través do arrependimento nos nossos pecados, nascemos para uma vida nova, nascemos de novo para Deus. 

Portanto, a cada ano nos reunimos para nos preparar espiritualmente e assim viver de forma plena os Mistérios da Salvação.

O tema deste ano, elaborado pelo Padre Cleiton[2], foi relacionado justamente seguindo os passos dos Exercícios Espirituais inacianos: focando na oração de contemplação com o objetivo de construir o Santuário interior à luz da Palavra de Deus, tendo uma atitude humilde para absorver aquilo que o próprio Deus vai se manifestando.

Já no início, o convite foi a não ter medo de avançar para águas mais profundas (cf Mc 4,35-41), ou seja, de não se apegar as comodidades ou até mesmo a fazer sempre o mesmo, mas lançar às novas aventuras. Jesus é mestre em avançar para outras margens, sejam elas das periferias humanas ou existenciais para anunciar e dar a conhecer este mistério de salvação a todos, começando dentro de nós mesmos, por isso a importância de entender os Exercícios Espirituais como uma construção deste Santuário Interior (cf I Cor 6,16) onde Deus que habitar.

Ao silenciar e pensar, uma pode ser a pergunta que vem em mente: Qual é o tempo que estou dedicando para que Deus possa habitar neste espaço que lhe pertence? Esta é a graça que os Exercícios Espirituais nos proporcionam, para que o nosso tempo seja cada vez mais um tempo para Deus, isso porque a grande correria ao longo do ano faz com que entremos em um ativismo, atividades próprias da missão que acabam ocupando um maior espaço. Assim sendo, os Exercícios Espirituais são uma oportunidade para todos nós de ‘voltar ao primeiro amor’ (cf Ap 2,2-5); para encarar à realidade com maior disposição de ‘servir e não ser servidos’ (cf Mt 20,28) tal como o nosso Padre Fundador, São José Manyanet, exorta a todos aqueles que que foram chamados a esta Congregação: “Lembrem-se que, a exemplo de Jesus, Maria e José, não vieram para serem servidos e sim doar a sua vida por todos, a fim de  ganhá-los para nosso Senhor Jesus Cristo.”

Este tempo dedicado para Deus, é uma experiência que pouco a pouco se vai tomando corpo, de um verdadeiro templo em construção, chegando a um grau de perfeição, por isso a prioridade aqui seria em aproveitar o espaço do templo interior para a oração, a escuta atenta daquilo que Deus fala no silêncio.

É no silencio que poderemos contemplar o mistério de Deus que se manifesta sem muitos alarmes (cf 1Re 19,9-13), no episodio da sarça ardente (cf Ex 3,1-15) onde Moisés é chamado a “tirar as sandálias dos pés porque o lugar onde ele estava era uma terra santa”, é clarividente que Deus está se manifestando misteriosamente, mas de que mistério se trata? Trata-se de um mistério de amor, porque em meio ao fogo que não se apaga, Deus chama a uma missão, este contemplar o mistério requer um despojar de nós mesmos para poder ouvir e responder o que Deus pede.

O tirar as sandálias, significar despojar daquilo que nos prende, sejam elas das situações que causam sofrimento, das paralisias espirituais, das crises existenciais, dos medos de assumir os planos de Deus em nossa vida. A partir deste despojamento interior, Deus já começa a ter “livre acesso”[3] em nós para nos enviar para onde seja... 

Nestes Exercícios Espirituais, muitas são as ideias que entrelaçam para ir formando um pensamento e ao mesmo tempo conscientizando-nos da grande missão que Deus espera de cada um e nós, nada será fácil, porém, não será impossível (cf Lc 1,37). Estes dias, são um privilégio para todos nós sacerdotes, dias de contemplação, para percebermos o quanto Deus está trabalhando e o quanto ainda falta na obra começada. O templo, como obra das mãos do Criador é para ser cuidado, contemplado e alimentado, portanto, não somos produtos do acaso, somos queridos e amados por Deus, tal como somos.

Não descartando a possibilidade de uma revitalização, um amadurecimento sobre como cuidar de forma amorosa deste tempo. Tempo e templo, nada está fora da sua harmonia, será com o tempo que iremos tomando consciência do grande valor desta obra da criação que é o nosso templo, tal como já manifestava anteriormente sobre o Santuário Interior (cf I Cor 6,16) onde Deus que habitar. A sua presença santifica ainda mais este espaço, para que possamos dizer que é um templo sagrado, que tem uma origem e um começo, ou seja, somos humanos e divinos ao mesmo tempo.

O livro do Gênesis expressa que o ser humano é a imagem e semelhança de Deus (cf Gn 1,26), dando a entender que o homem é dotado de inteligência e vontade, mas também se poderia interpretar que o homem recebe de Deus um poder sobre os outros seres vivos. O ser humano faz parte da criação, por isso mesmo que ao fazermos parte deveríamos ser conscientes, não significa de todos os seres criados sejamos os melhores, mas que sejamos os responsáveis de cuidar e zelar pelo criado, a partir de nós mesmos, como templos vivos do Senhor. Assim veremos o quanto a natureza divina está presente na natureza humana, quando se deixa cuidar e respeitar algo que foi “moldado pelas suas mãos” (cf Je 18, 1-10).

Para zelar e cuidar de tudo que Deus fez, primeiramente, devemos sair de nós mesmos, desinstalar-nos. Ou seja, desapegar de tudo que venha interferir no processo de perfeição deste santuário, obra prima de Deus.

Este sair de nós mesmos, não significa desfazer-se da obra criadora, mas contemplar o todo da criação, percebendo as suas mais variadas belezas, mas também as suas debilidades e as suas necessidades, porque seria muito fácil, penar que tudo é belo, simplesmente dentro do seu mundinho, do seu castelo, mas a realidade nos pede uma resposta. Deus nos interpela a decidir e consequentemente avançar.

Na vida do ser humano nada acontece por acaso, tudo é providência divina. Quando no texto do Gn 12, 1-9, sobre a vocação de Abraão, Deus pede para que Abraão saia, ou seja, que não se acomode, aqui é onde Deus atua fazendo-lhe uma promessa que anima, não para que Abraão faça o que Deus deseja, mas que ele mesmo perceba a grande aproximação e o zelo cuidadoso do Senhor para com todos aqueles que fazem com que a mensagem de salvação chegue a todos.

Assim como Deus contou com Abraão, também conta com todos nós, para que a mensagem nos faça livres de todas e quaisquer ataduras (cf Jo 8,32). Aqui vem a confiança e a misericórdia para conosco, “servos inúteis, que fazemos nada mais do que nos pede” (cf Lc 17,10), aqui é onde podemos ver e perceber a grande bondade do Senhor, independente das capacidades de cada um, porque o que realmente conta é levar aquilo que estamos “experimentando, observando e contemplando” (cf I Jo 1,1-4), para que tudo isso não seja simplesmente chuvas de ideias bonitas, nada melhor, do que permanecer unidos a Jesus, assim como os ramos está unido a videira (cf Jo 15, 1-11).

A palavra permanecer, evoca uma união, uma intimidade, comunhão, ou seja, fazer-se um com o Senhor (cf Jo 17). A parábola figurativa da videira e dos ramos, vem justamente nos orientar a um aprender do mestre, porque ele chama a todos para permanecer com Ele (cf Jo 1,39), este fato nos leva a abrir os horizontes, estar receptivos em aprender dos seus gestos e das suas palavras, porque chegará o momento do envio, isto é, da missão (cf Mt 10,16), que por sinal não será fácil, portanto, confiemos na sua infinita misericórdia.

Somente através desta intimidade com o Senhor que alcançaremos a fortaleza necessária para superar as contrariedades, mas tenhamos esta certeza e esta promessa de que jamais estaremos sós (cf Mt 28,20) uma promessa que nos poderá encorajar cada vez mais a seguir enraizados no verdadeiro sentido do amor.

 

[1] PAPA FRANCISCO. Mensagem para Quarema de 2019.

[2] Padre Cleiton Melo, sf é pároco da Paróquia de São Francisco Xavier em Cambé-PR.

[3] Trecho da música Espera no Senhor, de Eliana Ribeiro.

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