Gostaria de começar este pequeno artigo sobre o encerramento do mês da Palavra de Deus, dizendo que a Bíblia é a carta de amor que Deus escreveu à humanidade para encontrar o sentido da vida e o caminho da felicidade, portanto ‘desconhecê-la é ignorar a Cristo’.
Assim sendo a Igreja aqui no Brasil dedica o mês de setembro a Bíblia, não significa que nos outros meses a Palavra de Deus tenha o seu realce, a sua importância, com certeza é uma iniciativa que nos faz estar mais motivados para adentrar nesta carta de amor e deixar-se ‘contaminar’ pela sua mensagem. Porém, o porquê de estarmos tão motivados é pelo simples fato de celebrarmos hoje (30/09) a memória de São Jerônimo, que no ano de 384 o Papa Dâmaso (366-384) pediu a Jerônimo, seu secretário para que fizesse uma boa tradução da Bíblia em latim, a partir do hebraico e do grego; da qual conhecemos como Vulgata (palavra que significa ‘versão comum’).
São Jerônimo pela sua grande cultura literária e bíblica afirmou: “Ignorar as Escritura é ignorar o próprio Cristo”.
Quão importante é para os cristãos conhecer o fundamento da sua fé contida na Palavra, tal como nos afirma a Carta aos hebreus: “a Palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes, e atinge até à divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4,12). Conhecer é ter intimidade, é se alimentar para ser forte diante das tempestades e demais adversidades que ao longo da vida irão seguindo para que desviemos o nosso olhar daquilo que realmente poderá nos levar.
O mal, também está preparado para atingir àqueles que foram conquistados pelo sangue descido da cruz. Toda preparação e conhecimento humano são poucos, porque o que nos fará forte e preparados para a grande batalha é estarmos unidos com o Verbo Encarnado: “Permanecei em mim e eu permanecei em vós” (Jo 15,4). É preciso ler e estudar a Palavra regularmente, todos os dias; aquecer a alma com um trecho dela; e saber usá-la nos momentos de dor, dúvida, angústia, medo, etc. Abramos a Palavra de Deus, deixemos o amor impregnar a nossa vida, deixemos Deus falar e tocar ao nosso coração.
Que bom ser um terreno que ao longo dos tempos e dos anos ela vai sendo adubada para quando chegar a semente tenha um berço acolher assim como “a chuva e a neve caem do céu e para lá não voltam sem ter regado a terra, sem a ter fecundado, e feito germinar as plantas, sem dar o grão a semear e o pão a comer, assim acontece à palavra que minha boca profere: não volta sem ter produzido seu efeito, sem ter executado a minha vontade e cumprido a sua missão” (Is 55,10).
Deixar a Palavra cair como chuva para regar e fazer germinar o amor, os valores, o sentido da vida, é uma grande transformação que santifica toda a nossa vida e a nossa historia, porque o papel da Palavra é “ensinar, para persuadir, para corrigir e formar na justiça” (2Tm 3,16). É um instrumento indispensável para a nossa santificação. Não conseguiremos ter “os mesmos sentimentos de Cristo” (Fil 2,5) sem ouvir, ler, meditar, estudar e conhecer a Palavra Sagrada seremos cristãos ignorantes e com certeza cairemos nas garras e armadilhas dos como nos fala na Segunda Carta de São Pedro: “Assim como ouve entre o povo falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos doutores, que introduzirão disfarçadamente seitas perniciosas [...] Muitos os seguirão nas suas desordens e serão desse modo a causa de o caminho da verdade ser caluniado. Movidos por cobiça, eles vos hão de explorar por palavras cheias de astucias” (2Pd 2, 1-3). Está na cara que ao estamos com grandes problemas pessoais, espirituais e econômicos, os falsos doutores aparecerão para semear a discórdia: “O reino dos céus é semelhante a um homem que tinha semeado boa semente em seu campo. Na hora, porém, em que os homens repousavam, veio o seu inimigo, semeou joio no meio do trigo e partiu” (Mt 13,24-25).
Nestes momentos das contrariedades da vida que todos estamos submergidos, os falsos profetas aparecem para semear, espalharem heresias, falsificando a Palavra de Deus, não apresentando a sua pureza original, mas pelo contrario, começam diluindo-a e enfraquecendo-a com palavras humanas. Assim que tomemos cuidado para que não sejamos falsos profetas de querer forçar a Palavra em dizer o que ela não pretende.
Não poderia deixar de citar um texto do Pe. Raniero Catalamessa, pregador da Casa Pontifica, no seu livro “O Mistério da Palavra de Deus”. Ao falar sobre a importância da Palavra de Deus nas comunidades religiosas diz: “Ocorre, por vezes, que na formação concedida aos jovens e noviços, nos exercícios espirituais e em toda restante da vida da comunidade, gasta-se mais tempo os escritos do próprio fundador do que com a Palavra de Deus. Formam-se antes discípulos do homem que discípulos de Cristo” (p86).
Por isso gosto de usar a Palavra na santa missa, gosto que o povo tenha a Palavra em mãos, para que o povo tenha um conto mais direto com a Palavra, que saibam buscar as citações, que conheçam os livros, num primeiro momento percebo que o nosso povo é analfabeto em questões bíblicas, o intuito não é que sejam doutores, biblistas ou catedráticos, mas que saibam aonde ir e encontrar a fonte que jorra a Vida Eterna.