“Vai, vende tudo que tens, dá aos pobres, depois vem, e segue-me!” (Mt 19,21) Esta frase bíblica apareceu-me repetidas vezes em um retiro juvenil (DESPERTAR) na adolescência. Confesso que na época, não me esforcei em entendê-la, penso que nem queria mesmo! Com o passar dos anos, com o amadurecimento de minha fé e, sem sombra de dúvidas, com a ajuda de algumas pessoas muito importantes no meu discernimento, procurei ler na mensagem a mim dirigida o que, verdadeiramente, Deus queria dizer.

Ao longo dos anos vividos, e hoje com 17 anos de sacerdócio, fica cada dia mais claro o desejo do Senhor em minha vida. Desejo esse, absolutamente contrário ao que, eu mesmo, como cidadão do mundo, gostaria de viver. Não tenho dúvidas que “O espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor consagrou-me pela unção; enviou-me a levar a boa nova aos humildes, curar os corações doloridos, anunciar aos cativos a redenção, e aos prisioneiros a liberdade...”. (Is 61, 1-2) Se não tenho dúvidas de que um dia, como todo ser vivo, morrerei, também não tenho dúvidas de que Ele me escolheu, me ungiu e me quer para uma missão específica. E, frente à essa escolha sublime, não posso dar-me o luxo de viver egoisticamente segundo minhas vontades e desejos. A vontade de Deus é maior sobre mim e, com alegria ofereço o doce sacrifício de ouvi-Lo e obedecê-Lo. Sei que é Ele quem atua sobre mim apesar de todas as limitações, que tenho plena consciência de possuí-las, e que Ele conhece tão bem. Mas, se mesmo conhecendo-as, Ele consagrou-me, então não tenho outra escolha se não a de responder generosamente a Seu chamado, à Sua convocação e “correr atrás do certame que me foi proposto”. (Hb 12,1)

Não vendi nada, porque não tinha para vender, porém “abandonei tudo pra ganhar o cêntuplo” (Mc 10,29-30) e por onde passo vou doando o que tenho de melhor: minha vida! E o faço com alegria pois esta vida me foi dada para viver de “acordo com a vocação também recebida do mesmo Doador: Deus!” (Ef 4,1) E vou recebendo o cêntuplo prometido: amor gratuito e sincero, fidelidade, amizade sem apego e honesta, carinho, dedicação, cuidado, zelo, apreço, atenção, alegria, sorrisos, .... Enfim, cores, perfumes, cheiros, flores e inclusive as que não semeei! E assim vou me convencendo a cada dia que realmente Ele, que me ungiu e consagrou, me dá (todos os dias!) mais do que mereço ter. Por isso “mergulho sem medo em águas mais profundas” (Lc 5,4),pois tenho a segurança de ser guiado, conduzido, dirigido acompanhado por Ele.

Neste mês de outubro, dedicado às missões, preparo-me para mais uma etapa dessa doce eleição-unção-missão. Vou para Camarões munido de muita fé, carregado de toneladas de orações de amigos e irmãos que compartilham o mesmo espirito missionário, embalado por uma quantidade inenarrável de giga/tera bytes de alegria compartilhada com outros tantos amigos, muita, mas muita confiança, de que o Filho d´Ele, o Mestre de Nazaré, que é inspiração, fonte e meta de toda missão não me deixará sozinho um só instante e, por último, levando a certeza de que minha Congregação de Filhos da Sagrada Família que possibilita-me viver esta experiência missionária, dará todas as condições humanas para poder dar o melhor de mim.

Hoje, aquela frase que ecoou nos meus adolescentes ouvidos, continua gritando e apontando-me a direção. O barco vai adianto, não posso e não quero voltar! O Mestre, com quem caminho, me chama, me ama e me anima no anúncio de Sua Boa nova!

Pe. Antonio Angelo Carneiro de Moraes,SF