Filhos da Sagrada Família - Vocações Manyanet
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Por: José Ricardo Guimarães Dantas,     02/03/2022 |  19:11:28
Onde está o teu cireneu?

Adentramos no tempo quaresmal. Momento este, que se estende desde a Quarta-Feira de Cinzas até à tarde de quinta-feira santa. Tempo propício para conversão, recolhimento, reflexão, jejum, esmola e oração. Tudo isso para que nos preparemos bem para a semana maior, tradicionalmente conhecida como Semana Santa. Semana maior, pois, culmina no ápice da nossa fé católica, onde a morte não triunfou, como nos diz o apóstolo Paulo em I Coríntios 15,55: “Morte, onde está a tua vitória? Onde está o teu aguilhão?”. Todavia, até chegar o momento em que iremos bradar “glória” no Domingo da Ressurreição, a Igreja nos auxilia, como mãe, nesta preparação, para que vivamos santamente este tempo, passando do deserto à glória.

 

Ao fazer memória da paixão, morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, logo nos recordamos da cruz, de todo o seu sofrimento, das cenas que ocorreram até o monte Calvário, da Virgem dolorosa etc. Lembramos até mesmo do filme dirigido por Mel Gibson (A paixão de Cristo). Mas tem um personagem nesta via dolorosa que passa despercebido e silencioso em meio a multidão alvoroçada. Um homem. Pai e provedor de sua casa, que trabalhava no campo, mas que naquela hora estava descendo por aquela rua com sua família e fora surpreendido, intimado e obrigado a ajudar no carregamento da cruz daquele que, como nos diz o livro do profeta Isaías 52,14: “Não tinha mais figura humana e sua aparência não era mais a de homem”. Jesus, que há pouco fora espancado, flagelado e torturado. A morte de cruz era sinal de vergonha e humilhação para o crucificado. Não obstante, esta visão do povo não era tão diferente para com aquele que ajudava o condenado a carregá-la. Foi o que aconteceu com Simão de Cirene, ao ajudar Jesus na subida para o Gólgota. O mesmo, como nos relata a beata Anna Catharina Emmerich “Sentiu nojo e repugnância, vendo Jesus tão miserável e desfigurado e com a roupa tão suja e cheia de imundície” (EMMERICH, A. 2015, p. 281), fora relutante ao ser convocado, pois temia o que poderia acontecer futuramente, mas se compadeceu e foi obediente. No caminho, a cada passo ao lado de Cristo, seu coração fora sendo “lapidado”, de tal modo que, já não era mais o mesmo cireneu pagão do início da trajetória, pois naquele momento seus olhos se abriram para algo sobrenatural. Em poucos versículos do Evangelho, nas meditações da beata e nos estudos dos exegetas, teríamos material para longos estudos, mas, podemos deixar este aprofundamento para outro momento.

 

Nesta ocasião, a intenção é ressaltar a posse da cruz e a figura do cireneu. Como havia dito no início, a quaresma é tempo de preparação, todavia, muitos se equivocam ao pensar que a profundidade espiritual é para ser vivida somente no tempo quaresmal. Ledo engano. Precisamos reconhecer qual é a nossa cruz e carregá-la, mesmo pesada, no decorrer de todo nosso percurso rumo ao céu. E para nos auxiliar, temos o amparo de dois “cireneus” em nossas vidas, um deles é o próprio Cristo, que com a sua graça, nos auxilia a carregarmos a cruz. E o outro são aqueles que estão à nossa volta (familiares, amigos, irmãos de comunidade, colegas de trabalho etc.), que muitas vezes, no simples gesto de ouvir, apoiar, corrigir, ajudar, suportar, estar, entre outros gestos e ações, trás sustentação para o irmão. Não queira lutar sozinho, reconheça os “cireneus” que o Senhor lhe enviar. E sabendo que o cireneu não fez todo o trabalho sozinho, jamais largue a sua cruz nas costas daquele que vem para te auxiliar, lembre-se de que ela é sua. Entretanto, não somente queira o sustento, mas seja o sustento na vida de quem precisa.  Seja um cireneu neste tempo quaresmal e após o seu término. Coragem.


 

Referências:

- BÍBLIA, Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002.

- EMMERICH, A., Vida, paixão e glorificação do cordeiro de Deus. São Paulo: MIR Editora, 2015, 11ª edição.

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